Os mistérios do Carnaval revelados por uma Touloulou

Todos os anos, na época do Carnaval da Guiana, celebrado entre janeiro e março*, são as mais bonitas a dançar! Quem? As Touloulous, claro! São umas senhoras mascaradas, com uns trajes magníficos muito coloridos. Todos os sábados à noite, são elas que comandam o espetáculo nas discotecas de Cayenne e outras cidades. Ghislaine é uma delas e conta-nos tudo sobre esta tradição tipicamente guianense. Vamos à festa!

Com mais de 60 anos, continua a participar nos bailes de máscaras, vestida de Touloulou. De quando data esta atração do Carnaval na Guiana?

Para mim, começou precisamente no ano em que nasci, em 1949, numa época em que havia ainda muita lepra na Guiana. As mães queriam que as suas filhas, apesar das lesões na pele causadas pela doença, pudessem ir dançar e encontrar um cavalheiro. Daí, estes trajes muito elegantes, que escondem, ainda hoje, todo o corpo e cara com máscaras e perucas. Só se veem os olhos. Até a voz é transformada. E é proibido descobrir-se!

Diga-nos como é que são estes trajes, já que é costureira e confeciona-os por encomenda e para alugar?

As touloulous são as rainhas do Carnaval! Devem ser as mais bonitas, com trajes que lembram os belos vestidos das damas dos séculos XVIII e XIX. Inspiro-me em catálogos de vestidos de noiva, mas têm de brilhar! Por isso, os tecidos são muito coloridos, brilhantes, em algodão acetinado com muitas rendas. Havia uma época em que se forrava a barriga e as ancas com almofadas para deformar a silhueta. Está menos na moda hoje em dia, mas os saiotes continuam a ter 8 ou 9 folhos e usam-se meias-calças. É verdade que faz muito calor, mas está fora de questão acabar com a tradição.

“São elas que escolhem os cavalheiros e não ao contrário. E os homens não podem recusar!”

Qual é o ritual destes bailes de máscaras?

Ocorrem todos os sábados durante o período do Carnaval, das 22 horas às 6 horas da manhã, nas discotecas das principais cidades da Guiana. Em Cayenne, as duas mais conhecidas são Le Soleil Levant-Chez Nana, uma verdadeira instituição, e Chez Polina, frequentada pelos mais jovens, que pode acolher 2000 a 3000 pessoas. Há uma “aldeia” com bancadas no interior à volta da pista de dança onde o público se instala. É um grande espetáculo. As Touloulous costumam chegar em grupo, desfilam, exibem-se e, claro, comandam o espetáculo, pois são elas que escolhem os cavalheiros e não ao contrário. E os homens não podem recusar!

Fale-nos sobre as danças e a música. São animadas?

Ah sim, reina a boa disposição! Há orquestras a animar os bailes, algumas muito famosas. Por exemplo, na Chez Nana, a de Victor Clet, conhecida carinhosamente por “Pilinha”. Com o seu grupo, os Blue Stars, torna o ambiente espetacular, até porque algumas das suas músicas contam anedotas locais sobre o ano anterior de forma humorística. Alguns são repreendidos! O ritmo é sempre animado com mazurkas, polcas, biguines e valsas, mas sempre rápidas e muito mexidas. Dançamos muito a noite toda, mas é muito agradável e os turistas são bem-vindos. Entre nós, brincamos umas com as outras, tentamos adivinhar quem é quem e não sermos desmascaradas. Adoro dançar assim, durante várias horas, bem vestida e sempre com um traje diferente cada noite. Até já ganhei um prémio há alguns anos por um dos meus vestidos. Estou ansiosa que chegue o Carnaval!

  • Em 2018, o Carnaval decorre entre 17 de janeiro e 14 de março.

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